Joaquín Torres García – 150 anos: o sul como horizonte no CCBB São Paulo
- Danielle Moreira

- há 43 minutos
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A retrospectiva de Joaquín Torres García ocupa o CCBB São Paulo com 500 obras, incluindo o icônico América Invertida.

Joaquín Torres García, (1874-1949). Crédito: ©Museo Torres García
A partir de 10 de dezembro, o CCBB São Paulo abre as portas para a maior exposição já dedicada a Joaquín Torres García no Brasil. Com cerca de 500 itens, incluindo pinturas, manuscritos inéditos, maquetes, desenhos, brinquedos de madeira e o célebre Mapa Invertido de 1943, a mostra apresenta ao público uma visão abrangente do artista uruguaio que redefiniu a arte moderna latino-americana. A exibição permanece em cartaz até 9 de março de 2026 e tem entrada gratuita.

Fotos Incluidas em carta de Irene Saderman a Olimpia 1992
A mostra foi concebida especialmente para o circuito dos Centros Culturais Banco do Brasil e inicia sua itinerância pela capital paulista antes de seguir para Brasília em março de 2026 e posteriormente para Belo Horizonte em julho de 2026. Esta é a primeira vez que um conjunto tão amplo deixa as reservas técnicas do Museo Torres García, em Montevidéu, permitindo ao público brasileiro acesso a peças raras e documentos fundamentais para compreender a dimensão universalista do artista.

Torres em seu ateliê na rua Abayubá
Com curadoria de Saulo di Tarso em colaboração com o Museo Torres García e organização da Cy Museum, a exposição propõe uma imersão no pensamento do criador do Universalismo Construtivo e da Escola do Sul. A pedagogia do Taller Torres García e sua defesa de uma arte latino-americana autônoma aparecem de forma clara, permitindo que visitantes entendam como símbolos, raízes locais e referências ancestrais formam a espinha dorsal de sua produção.
O projeto reúne empréstimos de instituições da América Latina e Europa, como o Museu d’Art Contemporani de Barcelona, o Institut Valencià d'Art Modern e o Museo de la Solidaridad Salvador Allende, além de acervos brasileiros como o MASP e a Pinacoteca de São Paulo.
América Invertida e o gesto que virou pensamento

Reprodução da obra América Invertida, 1943. Crédito: ©Museo Torres García
Entre os destaques, o ícone América Invertida marca o percurso da exposição. O mapa desenhado por Torres García na década de 1930, apresentado de cabeça para baixo, sintetiza sua visão radical de que o sul deveria ser o ponto de partida para a construção cultural da América Latina. Sua frase Nuestro norte es el sur tornou-se um manifesto visual e filosófico. A expografia de Stella Tennenbaum reforça essa ideia ao desenhar uma linha contínua que percorre o CCBB e culmina no móbile suspenso da América Invertida no térreo.
A proposta curatorial busca deixar que o próprio artista se manifeste, apresentando manuscritos, publicações históricas e desenhos que ilustram Historia de mi vida. Obras de artistas contemporâneos uruguaios e brasileiros ampliam o diálogo, aproximando o pensamento de Torres García das inquietações do século XXI.
Fotos: Obras de Joaquín Torres Garcia
Um artista global a partir do sul
Passagens da vida de Torres García no Brasil também aparecem. Em 1891, durante sua estadia no Rio, registrou o Pão de Açúcar em suas memórias, e ao longo de sua vida estudou inscrições rupestres brasileiras e grafias de civilizações ancestrais. Sua influência ressoa em nomes como Anna Bella Geiger, Carlos Zílio, Rubens Gerchman, Montez Magno, Delson Uchôa, Marconi Moreira, Paulo Nenflídio e Mano Penalva, todos presentes na mostra.
A relação entre arte, arquitetura e design também é evocada, especialmente na conexão com Lina Bo Bardi, que encontrou no artista um dos pilares de sua própria síntese estética e construtiva.
Fotos: Arquivos Torres
Uma exposição para ser vivida e atravessada
Os brinquedos de madeira criados por Torres García e sua família, conhecidos como Juguetes, têm presença marcante e revelam como o artista unia vida e criação. Maquetes e estudos de Monumento Cósmico aproximam o público de sua pesquisa geométrica e simbólica. Obras como Idea e Pachamama mostram como sua linguagem combinava rigor construtivo e espiritualidade, buscando uma geometria com alma.
A exposição acolhe ainda pesquisas recentes conduzidas por especialistas latino-americanos, incluindo estudos nanotecnológicos que revelam camadas materiais e gestuais invisíveis a olho nu, fundamentais para compreender obras que se incendiaram no Brasil em 1978.
Fotos: Obras de Joaquín Torres Garcia
Um convite ao visível e ao invisível
Mais que uma retrospectiva, a mostra se constrói como um espaço de convivência e descoberta. A cada núcleo, o visitante transita entre arte pré-colombiana, manuscritos, pinturas, esculturas, brinquedos e produções contemporâneas. A exposição sugere que o sul não é um ponto no mapa, mas uma perspectiva ética e poética sobre o mundo. Em São Paulo, o recorte privilegia o diálogo entre geometria e simbolismo.
Fotos: Manolita e Retrato de Manolita
Exposição Joaquín Torres García – 150 anos
Local: CCBB São PauloEndereço Rua Álvares Penteado 112, Centro Histórico
Período: 10 de dezembro de 2025 a 9 de março de 2026
Horário: Quarta a segunda das 9h às 20hIngressos
Entrada gratuita mediante retirada no site ou na bilheteria
Acesso: Estação São Bento do Metrô a poucos metros do CCBB
Classificação Livre







































