Rosalía em LUX: moda como rito, luz como linguagem
- Danielle Moreira
- há 4 minutos
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Rosalía renasce em LUX, fase marcada por símbolos sagrados, luz como linguagem e uma estética que transforma moda em rito.
Foto: Reprodução @rosalia.vt
A era LUX apresenta uma Rosalía que não apenas muda de visual, mas de dimensão simbólica. Sua imagem parece surgir de um espaço onde espiritualidade, performance e moda se encontram. Tudo é construído para transmitir um estado de transfiguração, como se a cantora estivesse atravessando um limiar entre o humano e o mítico. Nada grita, tudo murmura intenção.
Foto: Reprodução @rosalia.vt
O styling comandado por José Carayol lê o corpo da artista como suporte de significados. Suas escolhas dialogam com esculturas minimalistas e com a pureza formal de artistas como Donald Judd e James Turrell, onde a luz se torna matéria e não apenas efeito. Há ecos do barroco espanhol em certas estruturas de alfaiataria que lembram ex-votos e vestimentas litúrgicas reinterpretadas em chave contemporânea. A paleta reduzida funciona como campo emocional, remetendo tanto à pintura sacra quanto ao cinema contemplativo.
Foto: Reprodução @rosalia.vt
Nas imagens mais conceituais, o olhar de Chloe e Chenelle Delgadillo adiciona camadas visuais que evocam o Renascimento e sua iconografia do sagrado. Tecidos translúcidos lembram véus marianos, superfícies reflexivas trazem lembranças de relicários e a composição fotográfica muitas vezes se aproxima da estética de Caravaggio, especialmente no uso de sombras que abrem espaço para que a luz se torne protagonista narrativa. A Rosalía que ali aparece não é apenas vestida, mas construída como figura simbólica que dialoga com séculos de imaginário espiritual.
Foto: Reprodução @rosalia.vt
A luz, nessa fase, não é detalhe técnico. Ela é signo central. O hairstylist Pablo Bogado cria o efeito de iluminação no topo da cabeça que ressoa com a tradição das auréolas bizantinas e também com instalações de luz contemporâneas. Esse brilho define um contorno quase místico, como se a cantora estivesse sendo lida à maneira de um oráculo moderno. A maquiagem reforça a ideia de elevação, com escolhas que privilegiam a pele luminosa e a ausência de excesso, aproximando a cantora da estética etérea de retratos renascentistas e da iconografia de santas e mártires reinterpretadas sob a lente pop.
Foto: Reprodução @rosalia.vt
As roupas funcionam como pequenos rituais visuais. Transparências sugerem vulnerabilidade, texturas opacas aproximam a imagem do silêncio, estruturas rígidas falam sobre força interior. A semiótica desse visual aponta para temas como ascensão, purificação e renascimento, criando uma mitologia própria que se desenrola a cada aparição, como se a artista estivesse participando de um rito contínuo.
Foto: Reprodução @rosalia.vt
Em LUX, Rosalía não simplesmente veste moda. Ela a utiliza como idioma. A imagem se torna narrativa expandida, campo simbólico e gesto artístico. Tudo pulsa a partir de referências que transitam entre o sagrado, o minimalista e o escultórico, formando um retrato onde a artista se torna personagem e obra ao mesmo tempo. É uma fase que não busca chamar a atenção por impacto imediado, mas por densidade estética, como se a cada look ela escrevesse um capítulo silencioso da sua própria metamorfose.