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Dandismo afro-americano e sua influência no Brasil: da elegância negra à moda periférica

Do Harlem aos sambistas, o dandismo afro ecoa na moda brasileira como estilo, resistência e afirmação cultural até hoje.

Foto: Tailoring Black Style by Tyler Mitchell

A moda masculina contemporânea é resultado de movimentos culturais profundos que ultrapassam as fronteiras da passarela. Um desses movimentos é o dandismo afro-americano, surgido no século XIX como afirmação estética e política, e cuja influência atravessou o Atlântico, encontrando eco no Brasil, especialmente na cultura boêmia, na elegância dos sambistas e, mais recentemente, nas expressões artísticas das periferias urbanas.

Foto: Langston Hughes


Nos Estados Unidos pós-escravidão, homens negros passaram a usar a moda como ferramenta de afirmação social. O dandismo, com seus ternos bem cortados, sapatos brilhantes e chapéus elegantes, tornou-se símbolo de dignidade, status e resistência. Durante o Harlem Renaissance, intelectuais como Langston Hughes e músicos como Duke Ellington transformaram o vestir bem em um ato político e cultural.

Foto: Duke Ellington


Zoot suits e revolta estética

Nos anos 1940, o "Zoot suit", traje extravagante com ombros largos e calças amplas, foi adotado por jovens negros e latinos como forma de resistência e orgulho cultural. Repressões violentas ao seu uso, como nos "Zoot Suit Riots", mostraram como o estilo podia se tornar ferramenta de enfrentamento social, um conceito que ecoaria mais tarde em outros contextos, como o brasileiro.



No Brasil: dandismo, samba e boemia

A influência do dandismo chegou ao Brasil de forma orgânica, entrelaçada com a formação da cultura negra urbana. A elegância passou a ser marca registrada de sambistas, malandros e intelectuais da primeira metade do século XX, que viam no cuidado com o vestuário uma forma de se opor ao racismo e afirmar identidade.

Foto: Cartola


Personagens como Cartola, com seu terno impecável e chapéu alinhado, e Wilson Batista, conhecido por suas letras afiadas e seu visual elegante, são exemplos dessa estética refinada e boêmia. O “malandro”, figura ambígua, marginalizada e carismática, era também um dândi à brasileira: dançava com leveza, vestia-se com esmero e transitava entre a exclusão e o protagonismo cultural.

Foto: Wilson Batista


Nos tempos atuais, o dandismo ressurge nas periferias urbanas com novos códigos e protagonismo. Jovens negros usam a moda como linguagem visual para resgatar ancestralidade, desafiar estigmas e reivindicar espaço. Estilistas como Isa Silva e Gefferson Villanova incorporam esse legado com estética "afrofuturista", roupas de alfaiataria vibrantes, com o tropicalismo brasileiro e acessórios simbólicos.

Foto: @isaacsilvabrand e @geffersonvilanovalabel


A elegância, antes atrelada a uma elite branca, hoje é ferramenta de empoderamento. Nas quebradas, nos bailes e nas redes sociais, o ato de se vestir bem não é apenas vaidade, é uma declaração política. A estética dândi se mistura com elementos da cultura hip-hop, do samba, da religiosidade afro-brasileira e da moda de rua.


Do Harlem ao MET Gala: a consagração do estilo dândi negro

Foto: Louis Vuitton squad para MET Gala 2025


Essa ascensão ganhou consagração simbólica em 2025, quando o MET Gala, principal evento de moda do calendário internacional, escolheu como tema “Superfine: Tailoring Black Style”. A curadoria da exposição homenageou 300 anos de estilo negro, com ênfase no dandismo como linguagem estética e política, destacando sua influência global.

Foto: A$AP Rocky


A mostra, inspirada na obra “Slaves to Fashion” de Monica L. Miller, mergulhou no impacto da alfaiataria negra desde os tempos coloniais até os dias atuais. Ao apresentar looks que iam dos trajes usados por libertos no século XIX aos zoot suits e às criações contemporâneas, a exposição reafirmou o protagonismo da moda negra na construção de narrativas visuais de poder, identidade e subversão.

Foto: Janelle Monae, e Damson Idris / Getty


Celebridades como Colman Domingo, Pharrell Williams e A$AP Rocky, conhecidos por usar a moda como forma de expressão e afirmação, foram co-anfitriões do evento e apareceram com trajes que ecoavam o espírito dândi em sua forma mais contemporânea: alfaiataria ousada, cores vibrantes, acessórios de impacto e referências afro-diaspóricas.

Foto: Colman Domingo

O MET Gala 2025 não apenas olhou para o passado, mas apontou para um presente globalizado em que o estilo negro molda os rumos da moda de maneira autoral e inegociável.



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